quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O FUTURO OU O ETERNO?

Nesse mundo o futuro é agora
E agora o que eu quero é o eterno
Que fica distante do agora
Que é bem melhor que o passado
Que é onde eu não tinha o agora
Que é onde eu não tinha o eterno.
E hoje o agora é tudo
E é onde eu espero o eterno
Que é onde esse meu agora
Poderá ser meu eterno futuro.

Por Mente-Quente

segunda-feira, 9 de maio de 2011

$ER OU NÃO $ER, EI$ A QUE$TÃO? NÃO. TER OU NÃO TER.


- Mãe, a senhora deu comida “pru’s” passarim essa semana?
(Silêncio)
- Mãe, esses passarim devem estar com fome. Desde quando eles não
comem? Tá difícil... É só eu viajar e eles ficam mal cuidados...
(Silêncio)
 - Mãe, a senhora sabe onde está a lata de alpiste? Ela ficava no
“quartim”, mas não está lá.
(Silêncio)
- Ah, a lata tá aqui... Uai, mãe! Que dinheiro é esse perto da lata de alpiste?
- Âhn? O que você falou, meu filho?
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Encontrei com ele no Fórum. Seu traje continuava o mesmo dos últimos
vinte anos: bermuda jeans surrada, chinelo de dedo, camisa aberta até
o peito, cabelos desalinhados. Então perguntei:
- E aí, mermão! Como vão as coisas? O que você está fazendo aqui no Fórum?
- “Vim resolver uns pepinos com o juiz”, respondeu.
- Uai, cara, mas nesse traje?
- “O quê que tem? No bolso tem dinheiro!”, enfatizou.
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Os dois casos acima aconteceram com um amigo e me ajudarão a ilustrar um pouco o que gostaria de comentar nas próximas linhas: o “magnetismo” que o dinheiro causa em nós e a “segurança” que temos ou buscamos através dele. Às vezes fico tentando entender que poder é esse que essa palavra tem, que só de ouví-la nos dispersamos do que fazemos e prestamos atenção ao que se trata, ao que ele tem para nos mostrar. Que palavrinha é essa que nos dá a chave de “quase” todas as portas do planeta, inclusive de “vááárias” igrejas?
É sabido que o mundo material gira em torno dele. Uns dizem que é do poder. Outros afirmam que tudo está relacionado aos dois. Opiniões diferentes à parte, o dinheiro é uma meta entre os seres humanos. Estamos condicionados ao merecimento deste vil metal (virtualizado). Algumas pessoas trabalham em função e outras para ele. Tem gente que faz o dinheiro trabalhar para si próprio (esse tipo é denominado “alfabetizado financeiramente”). E tem os que que vivem “para” e “por” ele. Independente da relação que temos com o dinheiro, existe uma linha muito tênue  entre  viver  diante  ou  adiante.  O  dinheiro, como  dizem  por aí,  “compra quase tudo” e  “não é tudo na vida, mas é 100%”. Trabalhamos para sermos recompensados através dele. Multiplicamos nossos afazeres para “dar conta” das contas que nós mesmos criamos. Se queremos  algo, então temos que trabalhar mais e mais para desfrutar daquele objeto, ou coisa, ou não coisa. E fazemos funcionar uma máquina fabulosa que nada mais quer do que fabricar dinheiro e que continuemos a consumir mais dinheiro e, se possível, retirar todo o que nós temos: o “capi(e)talismo”. E esse sistema consegue isso por termos nos tornado vítimas da nossa própria vontade, do nosso querer.
As nossas relações sociais estão intimamente ligadas a “o que terei de retorno”, “o que ganharei com isso”. Se sou amigo de fulano que tem uma influência, então farei de tudo – tudo mesmo – para não perder sua amizade. “Esse cara me é útil”! Então o convido para meu aniversário, noivado da minha filha, churrasco no fim de semana, porque ele tem um poder aquisitivo maior, ou porque pode me ajudar um dia. Quem sabe arranjando um emprego para alguém da minha família ou me presenteando com algo que eu não posso adquirir? É... o dinheiro nos torna jogadores...
O dinheiro tem espaço em todos os lugares “desse” mundo! Ele é tão envolvente que o deixamos entrar até em nosso coração! E, sinceramente, hoje em dia, quando deixamos isso acontecer, fica difícil voltar atrás. Fico observando a falta de servidão nas pessoas que vivem com a “grana” no peito. Essas pessoas não contribuem nada com a sociedade. Elas se tornam escravas da sua presença.
Uma vez eu, meu filho e minha esposa estivemos num bar em Ipatinga, cidade localizada no Vale do Aço, Leste do estado de Minas Gerais, Brasil (talvez algum estrangeiro que fale minha língua se interesse em ler meus comentários). Quando lá chegamos, fizemos nossos pedidos e esses foram anotados pelo atendente num papel, que quase todos os estabelecimentos utilizam muito, a comanda. E nesse bar as comandas tem frases escritas em suas bordas. São frases fantásticas! Algumas bem conhecidas, outras nem tanto. Então, na nossa tinha uma frase que até hoje minha limitada montanha de massa cinzenta armazenou com muito prazer, e que degustei lambendo “os beiços”: o maior fabricante de inúteis é o dinheiro! Fabuloso! Desconcertante! Como aquilo, que hoje é cultuado como a coisa mais útil, pode nos tornar inúteis? “Ah, mas isso é fruto do meu trabalho!” Sabemos disso. Tê-lo não é proibido e deve ser louvável. A questão é como nos relacionamos com as coisas, com as fantasias, com as esperanças criadas e alimentadas pelo e no dinheiro. Se estamos sem um centavo no bolso não saímos de casa. Deixamos de ver pessoas, o céu, as estrelas, situações maravilhosas no mundo lá fora, só porque estamos sem “bufunfa”. E aí nos escondemos nas nossas moradias, que agora se transformaram em tocas, redomas quase que inatingíveis. Perdemos a oportunidade de um bate papo com o vizinho ou até mesmo com pessoas que poderíamos vir a conhecer, mas optamos pelo enclausuramento só porque estamos inseguros, devido à ausência monetária a que nos encontramos. Sentimo-nos “excluídos” sem nem mesmo saber o por quê, nem por “quem”. “Quanto vale uma moeda? Fala-se muito na falta dela, só se percebe a falta dela. Quem tem grana não reclama, esbanja a vontade de ter mais. Por quanto tempo se vive sem ela?”(por Juliana Martins, pelo Facebook).
Dia desses comentei com um amigo uma situação que venho observando há muito tempo e que antes incomodava, claro que por outros motivos também: o dinheiro tem ocupado tanto espaço em nossas vidas, que até dá saudades das senhoras que ficavam nas calçadas de suas casas – ou das vizinhas –“alcovitando” sobre a vida alheia: “você viu a roupa da filha da Eduarda? Como ela deixa sua filha sair de casa daquele jeito?” Não são os valores que se foram, mas sim outros valores que deixamos fazer parte. E aí não se preocupa mais com o tamanho da roupa da filha da Eduarda – o que achávamos ser um absurdo -, mas “quanto” custou!
Dinheiro é tema de e para tudo nesse mundo. Incontáveis canções e poemas foram inspirados nele ou até na falta dele. Paulinho da Viola, por exemplo, descreveu muito bem em “Pecado Capital” que, se o dinheiro não for manuseado de forma correta, pode mudar totalmente o quadro social de alguém. “Dinheiro na mão é vendaval na vida de um sonhador. Quanta gente aí se engana e cai na lama com toda a ilusão que sonhou... Dinheiro na mão é solução e solidão”. Já Roger Waters disse em “Money” que é para “agarrar essa grana com as duas mãos e fazer um estoque”. É, o dia de amanhã não nos pertence! Vamos poupar! E tem também um trecho da canção de autoria de Arnaldo Antunes e Jorge Benjor, curiosamente denominada Dinheiro, que os autores o retratam com inspiração sobre uma realidade há muito esquecida: “dinheiro não se leva para o céu e nem cai do céu”. Essa colocação é um chute no saco do sistema! NÃO LEVAREMOS DINHEIRO PARA O CÉU, NÃO! E quando achamos que ele não cai do céu, só porque temos que trabalhar para obtê-lo, essa frase traduz que não cai do céu porque NO CÉU NÃO TEM DINHEIRO! Ele pertence “a esse mundo”! O que (ou quem) estava errado lá no céu já caiu e faz tempo. A matéria não habita o Reino de Deus! A matéria, em toda e qualquer forma, cor, cheiro ou tamanho NUNCA sairá desse mundo. A MATÉRIA É ESSE MUNDO! Tudo o que enxergamos por aí e no espelho é pura matéria! Inclusive o próprio espelho!  A matéria só terá real sentido quando o nosso egoísmo e auto suficiência forem enterrados ainda nesse mundo. Assim, veremos que é possível aproximarmos do dinheiro, da matéria, sem nos corromper enquanto seres espirituais. Ou então, viveremos atrelados e dependentes de uma vida que se perde, que se consome, a cada instante, a cada dia. E aí, lembro de Humberto Gessinger na canção “Nunca Se Sabe”: “E, se chego sempre atrasado, se nunca sei que horas são, é porque nunca se sabe até que horas os relógios funcionarão”. Eis a questão!

MENTE QUENTE agradece à Juliana Martins pela intervenção virtual e à Margot pelas correções (que não foram poucas).

segunda-feira, 18 de abril de 2011

VISÕES

Ontem eu vi o futuro bater na janela do carro.
Hoje eu vi o futuro se esconder atrás de pedras.
Por isso, às vezes eu choro.
Tem dia que eu nem consigo olhar.
Como um dia disse o poeta, “nunca me esquecerei desse acontecimento”.
E amanhã, o que verei? Verei?

Por MENTE QUENTE


terça-feira, 5 de abril de 2011

O Grito...

Todas as formas que o homem criou para estabelecer uma comunicação com o outro, com o próximo, me encantam. Para se mostrar, criar vínculos, apresentar-se, impor-se ou apenas se identificar, utilizamos vários mecanismos, sejam eles verbais ou não verbais, que emitam som ou não, que se utilizem apenas de gestos ou que sejam pequenos movimentos. E todos têm um significado, um sentido. Apesar de saber dar apenas bom dia, boa tarde ou boa noite através da Língua Brasileira de Sinais, essa linguagem também me encanta. Porém, o meu fascínio é pelas formas e, principalmente, pelos sons que emitimos para conectarmos com tudo ao nosso redor.
A própria respiração ou o seu som identifica o estado em que encontramos. Sendo ela alterada não só por atividade física, mas também por alguma interferência no aspecto psicoemocional, então ela se torna um meio de comunicação. Quando algo que “aperta” o peito – pode ser uma pressão negativa, uma situação que não esperamos ou até mesmo uma paixão – saímos do sério. Enchemos os pulmões de ar e soltamos tudo num só sopro, como se aquilo fosse um remédio que ajudasse a aliviar a alma. Então, se o momento é mais intenso, a respiração fica mais ofegante, tal qual uma locomotiva. E com isso informamos a todos nosso estado.
Ainda não consegui ouvir o som do abrir e fechar das pálpebras, muito menos dos olhos quando se movimentam. Porém esse par brilhante emite códigos universais. Claro que com várias manifestações faciais, os olhos retratam estados, momentos tais como espanto, paz, medo, distanciamento, concentração. Enfim, emoções acompanhadas dessas alterações da face, do rosto. Mais uma forma de comunicação.
Do bocejo podemos fazer mais de uma leitura: quando se está com sono, cansado ou até mesmo em  instantes de tédio.
O grunhido é mais ou menos similar ao rosnado. Nós adoramos imitar os animais mesmo sem saber que o fazemos. Dizem por aí que, ao espreguiçarmos emitimos um som que é definido por grunhido. Meio estranho, mas identificável.
O sussurro, só pela expressão, principalmente quando lido pausadamente, bem devagar, se torna até erótico. Ele é um som baixo e confuso, não chega a um lamento, mas é como um murmúrio, um “zumbido”. Quando queremos que a nossa volta não sejamos entendidos, sussurramos.
O choro, assim como o sorriso, têm, se não me engano, duas dimensões: física e psíquica. Sejam eles estimulados por uma emoção de tristeza, descontentamento, ou de extrema satisfação, eles também são manifestações humanas e entendemos muito bem suas razões. Eles são comunicação.
A fala é a forma mais utilizada. Ela tem várias facetas: pode ser baixa, lenta, grossa, rouca, aguda, etc. É a forma mais comum entre os seres humanos. Ela é a expressão da palavra. É o discorrer. É o dizer. É o orar(lembrar “oratória”). Claro que de acordo com o canal utilizado, que é a língua proferida, dita abertamente, todos entendem a mensagem. Não sei se ela tem mais variações, porém lembro-me de duas bastante curiosas: a fala através do berro e a fala através do grito. O berro é quando emitimos som em tom áspero e elevado, quase um rugido, bradado e bramido fortemente, chegando a ser inconsequente. Agora, o grito é um som mais agudo e mais elevado. O grito é forte. Ele tem identidade. Mesmo ele sendo de dor, se mostra tal qual um “ato”. Ele pode ser uma palavra proferida em tom de protesto, de insatisfação. O grito chega a ser o fim da inércia, da estabilidade. Ele é a caracterização da ruptura. O grito é incômodo. Ele tem o poder de dispersar e, acima de tudo, de despertar, de acordar. Nem que seja num susto. Puro súbito. O grito é filme, é pintura. Ele inspira. Historicamente ele representa ato de várias classes. O grito tem “alma”! Quanto ao seu reflexo e à sua interferência nos seres humanos como um mecanismo de comunicação, ele se torna tangível! O grito tem a capacidade de  inspirar e transformar! O grito ecoa ao longe e não se sucumbe! Suas ondas atravessam montanhas, vales, florestas, rios, corações e mentes! O grito mobiliza! O grito abala! O grito é movimento! O grito é atitude! O grito é liberdade! O grito é verdade! O Grito é de Alerta!  
                                                                                                           
                                                                                                                              Por MENTE QUENTE
              Em função do outro é que me inspiro até o último suspiro de minh'alma. Com ele me encontro, me torno eu mesmo, me identifico e me conheço. Sem ele, me desintegro, me consumo num instante. Obrigado pela sua existência, meu próximo.
                                                                                                                              Por MENTE QUENTE

Obs.: homenagem à Comunidade Cristã "Grito de Alerta" de Ipatinga/MG - Brasil.

quarta-feira, 30 de março de 2011

“O problema não é ele, e sim a falta dele”


Vi e li uma matéria no Jornal Estado de Minas de sexta-feira, dia 25 de março, página 25(além da chamada na capa) que me fez pensar um pouco - ou mais um pouco – sobre um tema que, infelizmente se tornou “lugar comum” entre todos os meios de comunicação do nosso país. Era sobre uma mulher de 47 anos, Pedagoga, casada, mãe de dois filhos. Dependente química há muito anos, ela busca uma forma de parar de usar drogas. Começou a usar cocaína aos vinte e poucos anos e há 15 anos conheceu o crack e mantém um íntimo relacionamento com a droga. Durante a entrevista ela contou a devastação causada pelo uso interminável de drogas. Porém, o que me chamou a atenção foi uma frase que essa mulher soltou, logo no início da entrevista: “o problema não é ele, e sim a falta dele”. Como dizem os mineiros mais tradicionais, quazcaínuchão. Boquiaberto, fechei meus olhos e suspirei fundo.
Eu que achava ser o problema “só” a ponta do iceberg, a conseqüência, a “cereja do bolo” – o que eu já achava muito -, vi que, por pior que seja a sua presença, a ausência dele é que torna tudo muito maior, mais amplo, independente de ser a tal cereja ou não. Sentir falta de algo que se conhece muito, que faz parte ou que se torna parte da vida, principalmente nesse caso, é a somatória de toda a impotência humana. Não poder é uma forma de dizer para si mesmo “eu sou limitado”. Mas, e quando a vontade, a saudade, esse querer é maior do que toda a força que se consegue juntar?
O “não ter” se torna o único “ter”. O “não ter” se transforma e desequilibra de tal maneira que se esquece até do limite do próprio querer. E esse querer se perde. Ele não é mais vontade. Ele se despersonifica. O domínio desse querer se ausenta sem ser percebido. Acima do “desejo, necessidade, vontade” está o querer perdido, afoito, totalmente indisciplinado pela “falta dele”. Eu me torno – aliás, fui criado assim – e gosto, amo ser independente e auto-suficiente. Enquanto ser humano não gosto de depender de nada e muito menos de ninguém! “Depender de ônibus é f...”, eu digo. Eu cuido o máximo possível para fazer tudo da forma que eu quero, que eu gosto. E, se achar um espaço, eu interfiro em “tudo” à minha volta para que, se não for feita a minha vontade, do jeitinho que eu quero, que pelo menos permaneça como está, como deixei. Como quero.
O que fiz, pelo meu querer, não pode ser alterado, destruído. Se tornou “sacralizado” por mim. “Quero assim porque gosto assim!”. De fato não são ruins as coisas se manifestarem conforme quero. Porém, pode o meu querer interferir ou não o querer do outro? “E que seja feita a minha vontade”. É bom dizer isso, né? “Está tudo nos conformes”, “como eu planejei”, “como eu quis”. Parece que, além da sensação de “dever cumprido”, o que me encanta é “poder” fazer do “meu” jeito, “quando eu” quiser.
Então, se sou contrariado, se as coisas não conspiram conforme o meu querer e alteram o resultado obtido por esse querer, eu sofro. Busco alterar, novamente, o fluxo de tudo para que amenize essa dor, esse sofrimento. E a situação se torna incontrolável quando o problema não é a presença, e sim a ausência. Para mim, querer a ausência, depender da ausência, sentir falta da ausência é melancólico. E principalmente quando, no fundo do meu ser, no meu íntimo, diante de toda a minha auto-suficiência, eu não gostaria de querer aquilo. E a coisa se torna cíclica. Sinto saudades, sinto falta. E esse é o resultado de eu querer ser independente: tornar dependente disso, desse algo, “da minha própria independência”.
O processo de canalização que criei me tornou “completamente escravo” do meu próprio querer! A minha vontade já não é mais minha! Não determino mais “ou isto ou aquilo” na minha vida! Tudo o que tenho é o “querer da ausência”! Tudo o que quero é aquilo que não quero! Sabendo eu das várias vertentes que me levam a querer a minha independência, que já é nata,  encontro no oposto – ou aliado – a grande forma de tentar entender meus limites de independência a partir da dependência. Se as minhas ações e manifestações de independência, durante toda a minha vida não resultaram em algo que me deixasse um ser “completo” e satisfeito, se meu alvo sempre foi o meu querer compulsivo e desordenado, mantendo-me dentro de uma cadeia de atos e pensamentos insanos que me impediram de perceber a minha capacidade de transformação, então percebo que devo procurar, fora de mim, algo – ou alguém – que possa me ajudar a desconstruir e reconstruir toda a minha forma de ver, a minha crença. E essa “nova” forma de ver sempre existiu. Porém, enquanto eu me mantinha ocupado com minha independência, alimentando vorazmente o meu querer, não dava conta que esse estado deveria ter um fim.
Quando olho através do espelho da minha alma percebo que, por mais que eu prossiga nessa constante independência, encontro, dentro de mim, a grande entrada para a “dependência da presença”, a “maior” e “melhor” possibilidade de reverter um cenário de completa letargia que há muito dominava minha vida: admitir minha dependência do ser Supremo, do Criador do universo,do Soberano,  daquele que deve ser louvado por todo o ser que respira.
A minha independência só existirá quando eu aceitar essa dependência de Deus. Então, essa minha independência se torna liberdade, capacidade de pensar e agir com o coração de Deus, com a sabedoria de Deus, com a verdade de Deus. Assim, a frase “o problema não é ele, e sim a falta dele” que antes se referia a tudo aquilo que me impedia de realizar o meu querer, se torna “o problema não é ele, e sim a falta de Deus”.
Viver sem essa condição é viver sem condição de viver! É mascarar meus atos para não ter um peso na consciência. É tatuar na minha alma uma máscara grossa e profunda que só se elimina através de uma entrega total e sincera da vida à “vontade” divina. Vontade essa que, aos poucos vai se integrando ao meu ser e, antes que eu perceba – mesmo que tente, não conseguirei -, desintegra  todas as pontes que eu construí com minhas próprias mãos. Viver “na” graça é “ter” graça de viver!!!
                                                        
                                                          Só serei completamente feliz a partir do momento em que  conseguir olhar no olho do outro e ver nele o olhar de Deus.
                                                                            MENTE QUENTE
                                                                                               
                                                                          

domingo, 13 de março de 2011

O TSUNAMI É GRAÇA OU ABSURDO?

Domingo, 13 de março de 2011. Acordei e ao olhar no relógio do celular tomei um susto: marcavam cinco horas e quarenta e sete minutos. O quê? É isso mesmo? Em pleno domingão? E olha que ontem fui para a cama por volta de 23h! Como vi que não ia conseguir “pegar no sono” novamente, fui para a sala e, ali mesmo no sofá fui dar sequência na leitura bíblica sugerida pelo meu “guia espiritual”: “comece pelos evangelhos, mermão”.  Li cinco capítulos do Evangelho de Mateus(de 11 a 15). E no final do décimo terceiro tem uma parábola denominada “Um Profeta Sem Honra”, que vai do versículo 53 ao 58(esta passagem também se encontra no Evangelho de Marcos 6, 1-6). No verso 58 Mateus termina com a seguinte frase: “E não realizou muitos milagres ali, por causa da incredulidade deles”. Essa afirmativa me desbaratinou. Dei sequência na leitura, porém com um certo incômodo, pois tais palavras despertaram em mim uma curiosidade muito forte.
Como a fome apertou fui até a cozinha preparar um café e abrir a porta para a Luna – a última cadela agregada à casa – me fazer companhia. Liguei o rádio, comi mamão, passei o café, brinquei com a minha cachorra, tomei café, comi torrada, pão... e a frase continuava em minha mente. Então, fui até uma estante que tenho na copa e comecei a olhar alguns dos vários livros que ficam por lá amontoados. Entre livros de Carlos Drumond de Andrade, Max Gehringer, José Saramago, Affonso Romano de Sant’Anna, Khalil Gibran e Augusto Boal me deparei com L’absurde et la grâce (“O Absurdo e a Graça”,VERUS Editora), do filósofo e padre ortodoxo Jean-Yves Leloup. Em 2009 ganhei-o de meu irmão mais velho e, rapidamente, devorei suas linhas, palavras, capítulos, citações e tudo o mais que aquela autobiografia podia me oferecer. Voltei à cozinha e entre cafezinhos e torradinhas novamente, folhei aquele “manual” que muito me ajudou no processo de entendimento da minha fé e, principalmente, da minha relação com as graças e desgraças da vida.
Tomei um demorado banho e fui me encontrar com meus / minhas “irmãos / irmãs em Cristo” numa comunidade cristã que freqüento, pois domingo é dia de “Caféconzirmãos” e estudo bíblico. Após apreciarmos café, broa, “pãozinho da D. Maria”, biscoitos e etc, o companheiro que dirige – e muito bem - o estudo, sugeriu a todos um tema que anda à “boca grande” pelo mundo afora: o desastre ocorrido no Japão há dois dias atrás. Um abalo sísmico de magnitude 8,9 na escala Richter que gerou um tsunami de 10 metros de altura, invadindo o nordeste daquele país. Resultado do fato em terras nipônicas: caos, destruição, mortes, sofrimento, expectativas e, consequentemente, perigo a todo o mundo devido às explosões ocorridas em algumas usinas nucleares. Informações técnicas e especulações à parte, o grupo concordou com a proposta. Então, entre idas e vindas nos livros do Velho e do Novo Testamento, creio que o estudo e as discussões geradas ajudaram – e muito – a manter a crença e a fé em Deus e no plano que Ele tem para a humanidade.
“Mas, como assim?”, você pode estar se perguntando. “Um absurdo desse ajudar a manter a crença e a fé em Deus?” É fato que a terra e o mar encontram-se tão contaminados pelos nossos atos que eles estão rejeitando seus “moradores” de forma global. O planeta não está suportando mais tanto avanço em busca de algo que só satisfaz os prazeres fugazes e às vezes nem tem muita explicação convincente. Ele grita de dor e vomita fogo e sangue. Todas as formas de vida nele existente estão fadadas a um fim trágico. E bem mais trágico que as grandes catástrofes que já aconteceram em todos os tempos.
Podemos, então, até achar “absurdo” o juízo divino em todo esse processo? Sim, pois é aí que se encontra a “graça”. O Pai busca o seu filho através do arrependimento, do repensar seus atos. Ele quer que o filho se atente para o que tem feito, tentando salvá-lo através de fatos. Deus continua nos chamando. Deus continua promovendo a salvação para todos nós, pois todas as coisas lhe estão sujeitas. Às vezes ele escolhe os piores lugares e as piores situações para falar-nos e, assim, unirmo-nos a Ele e aos outros. E mesmo assim, dotados de todas as qualidades e, sobretudo de inteligência, nós não nos voltamos para isso, para as manifestações de Deus, e continuamos nos valendo do grande presente que o Pai deixou, por mais que queiramos admitir ou não: o livre arbítrio. O “eu posso” ilimitado simplesmente tem sujeitado o ser humano à maior desgraça que possa acontecer consigo próprio: a perda da alma! E é verdade: EXISTE ABSURDO NA GRAÇA! Ela realmente é estranhamente absurda. Então, entendo o “por causa da incredulidade deles”. A genealogia de Jesus, o meio em que vivia, a sua realidade humana foram determinantes para que as pessoas que ali se encontravam não acreditassem no que Ele fazia e / ou fez enquanto por aquelas bandas estava. E esse julgamento partiu “das pessoas”. A incredulidade do povo O fez partir dali. Agora, o que mais Deus terá que nos mostrar para que venhamos a acreditar que seu plano está se confirmando a cada dia mais, a cada momento de nossas vidas? Isso eu nem imagino. Só sei que ele continuará, seja “absurdamente” ou não, nos mostrando incessantemente que “...sejam santos porque eu, o Senhor, o Deus de vocês, sou santo”(Levítico 19, 1).

“Porque preocupar-se tanto com o seu futuro e estar   tão pouco preocupado com a sua eternidade?”



MENTE-QUENTE

domingo, 27 de fevereiro de 2011

"NÃO POSSO MAIS VIVER SEM MIM!"

Há quanto tempo eu vinha me procurando, quanto tempo faz, já nem me lembro mais. Sempre correndo atrás de mim feito louco, tentando sair desse meu sufoco. Eu era tudo o que eu podia querer. Era tão simples e eu custei prá aprender. Daqui prá frente  nova vida eu terei. Sempre ao meu lado bem feliz eu serei. Eu me amo, eu me amo. Não posso mais viver sem mim. Como foi bom eu ter aparecido nessa minha vida já um tanto sofrida. Já não sabia mais o que fazer prá eu gostar de mim, me aceitar assim.  Eu que queria tanto ter alguém. Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém. Longe de mim nada mais faz sentido. Prá toda vida eu quero estar comigo. Eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim. Foi tão difícil prá eu me encontrar. É muito fácil um grande amor acabar, mas eu vou lutar por esse amor até o fim. Não vou mais deixar eu fugir de mim. Agora eu tenho uma razão prá viver. Agora eu posso até gostar de você. Completamente eu vou poder me entregar. É bem melhor você sabendo se amar. “EU ME AMO”, ROGER ROCHA MOREIRA
A trilha sonora da volta de Beagá dia desses foi  uma delícia. Músicas “oitentistas” embalavam as muitas curvas da “estrada da morte”. E enquanto a sinuosidade dessas curvas não se findavam – até pareciam mesmo que nunca teriam fim -, eu, meu filho e minha esposa começamos, sob a nossa ótica, a brincar de analistas e críticos de algumas canções que nos divertiram durante os 200 quilômetros que nos separavam da capital mineira. E as canções da banda “Ultraje a Rigor” foram as que renderam o maior número de comentários: “Rebelde Sem Causa”(1984), “Inútil”(1985), “Pelado”(1987) – essa rende uma crônica -, “Mim Quer Tocar”(1985), “Terceiro”(1987),  “Sexo!!”(1987) – essa rende um livro – e outras mais fizeram parte do rol. Roger Rocha Moreira, que está entre os quase 100 mil seres humanos com o Q.I. acima da média – ver www.mensa.org.br -  divertiu – e ainda continua divertindo – todos aqueles que ouviram e ainda ouvem suas canções. O deboche impresso em sua voz com tom farresco é nato, assim como sua visão do mundo, do ser humano que vive (des)ordenadamente em sociedade e, principalmente, das questões existenciais que todos nós exprimimos através de pensamentos e atos. A canção “Eu Me Amo” é, para mim, um hino à busca incessante, à insatisfação exacerbada que retrata o encontro do ser humano consigo próprio, que sempre viveu numa desordem interna, procurando sua singularidade, individualidade e unicidade. E essa busca incessante de dar sentido à vida num mundo onde a coisificação do ser humano é “lugar comum” se torna mais complexa, principalmente para pessoas que sempre buscaram fora de si esse sentido. “Eu era tudo o que eu podia querer” é um olhar no espelho e dizer para si mesmo “você é e sempre foi importante para mim”. Só não sabia o motivo. É a descoberta do amor próprio, do tesão por si mesmo. E quando essa descoberta ocorre, sentimos algo tão forte que não podemos mais viver sem nós mesmos. É a personificação do meu eu. Arduamente nós buscamos esse auto conhecimento através de nossas experiências, de nossas vivências em relacionamentos sociais, amorosos e espirituais. E nem sempre, ou ao tempo que poderia ou deveria acontecer, descobrimos nossas virtudes e dons. Quando esse processo se mostra como algo já “concretizado” é que vemos que só seremos nós mesmos se existir o “outro”, o “próximo”, “alguém”. E aí se descobre o real sentido dessa existência (“agora eu tenho uma razão prá viver / agora eu posso até gostar de você / completamente eu vou poder me entregar / é bem melhor você sabendo se amar”). Valorizando a si próprio consegue-se aceitar a condição de ser humano, limitado e que não consegue viver sozinho. Muitos acreditam – me incluo nesse bolo – que existe alguém que vem antes desse amor próprio e ao próximo. Claro que isso é uma questão de crença, visão ou até mesmo conveniência. Porém, falando a verdade, o “conhece-te a ti mesmo” está tão na moda tanto quanto a se registrar no “ Facebook”. Mas essa é uma outra história...
MENTE QUENTE (créditos de Taís F. Estrela Fernandes)