segunda-feira, 9 de maio de 2011

$ER OU NÃO $ER, EI$ A QUE$TÃO? NÃO. TER OU NÃO TER.


- Mãe, a senhora deu comida “pru’s” passarim essa semana?
(Silêncio)
- Mãe, esses passarim devem estar com fome. Desde quando eles não
comem? Tá difícil... É só eu viajar e eles ficam mal cuidados...
(Silêncio)
 - Mãe, a senhora sabe onde está a lata de alpiste? Ela ficava no
“quartim”, mas não está lá.
(Silêncio)
- Ah, a lata tá aqui... Uai, mãe! Que dinheiro é esse perto da lata de alpiste?
- Âhn? O que você falou, meu filho?
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Encontrei com ele no Fórum. Seu traje continuava o mesmo dos últimos
vinte anos: bermuda jeans surrada, chinelo de dedo, camisa aberta até
o peito, cabelos desalinhados. Então perguntei:
- E aí, mermão! Como vão as coisas? O que você está fazendo aqui no Fórum?
- “Vim resolver uns pepinos com o juiz”, respondeu.
- Uai, cara, mas nesse traje?
- “O quê que tem? No bolso tem dinheiro!”, enfatizou.
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Os dois casos acima aconteceram com um amigo e me ajudarão a ilustrar um pouco o que gostaria de comentar nas próximas linhas: o “magnetismo” que o dinheiro causa em nós e a “segurança” que temos ou buscamos através dele. Às vezes fico tentando entender que poder é esse que essa palavra tem, que só de ouví-la nos dispersamos do que fazemos e prestamos atenção ao que se trata, ao que ele tem para nos mostrar. Que palavrinha é essa que nos dá a chave de “quase” todas as portas do planeta, inclusive de “vááárias” igrejas?
É sabido que o mundo material gira em torno dele. Uns dizem que é do poder. Outros afirmam que tudo está relacionado aos dois. Opiniões diferentes à parte, o dinheiro é uma meta entre os seres humanos. Estamos condicionados ao merecimento deste vil metal (virtualizado). Algumas pessoas trabalham em função e outras para ele. Tem gente que faz o dinheiro trabalhar para si próprio (esse tipo é denominado “alfabetizado financeiramente”). E tem os que que vivem “para” e “por” ele. Independente da relação que temos com o dinheiro, existe uma linha muito tênue  entre  viver  diante  ou  adiante.  O  dinheiro, como  dizem  por aí,  “compra quase tudo” e  “não é tudo na vida, mas é 100%”. Trabalhamos para sermos recompensados através dele. Multiplicamos nossos afazeres para “dar conta” das contas que nós mesmos criamos. Se queremos  algo, então temos que trabalhar mais e mais para desfrutar daquele objeto, ou coisa, ou não coisa. E fazemos funcionar uma máquina fabulosa que nada mais quer do que fabricar dinheiro e que continuemos a consumir mais dinheiro e, se possível, retirar todo o que nós temos: o “capi(e)talismo”. E esse sistema consegue isso por termos nos tornado vítimas da nossa própria vontade, do nosso querer.
As nossas relações sociais estão intimamente ligadas a “o que terei de retorno”, “o que ganharei com isso”. Se sou amigo de fulano que tem uma influência, então farei de tudo – tudo mesmo – para não perder sua amizade. “Esse cara me é útil”! Então o convido para meu aniversário, noivado da minha filha, churrasco no fim de semana, porque ele tem um poder aquisitivo maior, ou porque pode me ajudar um dia. Quem sabe arranjando um emprego para alguém da minha família ou me presenteando com algo que eu não posso adquirir? É... o dinheiro nos torna jogadores...
O dinheiro tem espaço em todos os lugares “desse” mundo! Ele é tão envolvente que o deixamos entrar até em nosso coração! E, sinceramente, hoje em dia, quando deixamos isso acontecer, fica difícil voltar atrás. Fico observando a falta de servidão nas pessoas que vivem com a “grana” no peito. Essas pessoas não contribuem nada com a sociedade. Elas se tornam escravas da sua presença.
Uma vez eu, meu filho e minha esposa estivemos num bar em Ipatinga, cidade localizada no Vale do Aço, Leste do estado de Minas Gerais, Brasil (talvez algum estrangeiro que fale minha língua se interesse em ler meus comentários). Quando lá chegamos, fizemos nossos pedidos e esses foram anotados pelo atendente num papel, que quase todos os estabelecimentos utilizam muito, a comanda. E nesse bar as comandas tem frases escritas em suas bordas. São frases fantásticas! Algumas bem conhecidas, outras nem tanto. Então, na nossa tinha uma frase que até hoje minha limitada montanha de massa cinzenta armazenou com muito prazer, e que degustei lambendo “os beiços”: o maior fabricante de inúteis é o dinheiro! Fabuloso! Desconcertante! Como aquilo, que hoje é cultuado como a coisa mais útil, pode nos tornar inúteis? “Ah, mas isso é fruto do meu trabalho!” Sabemos disso. Tê-lo não é proibido e deve ser louvável. A questão é como nos relacionamos com as coisas, com as fantasias, com as esperanças criadas e alimentadas pelo e no dinheiro. Se estamos sem um centavo no bolso não saímos de casa. Deixamos de ver pessoas, o céu, as estrelas, situações maravilhosas no mundo lá fora, só porque estamos sem “bufunfa”. E aí nos escondemos nas nossas moradias, que agora se transformaram em tocas, redomas quase que inatingíveis. Perdemos a oportunidade de um bate papo com o vizinho ou até mesmo com pessoas que poderíamos vir a conhecer, mas optamos pelo enclausuramento só porque estamos inseguros, devido à ausência monetária a que nos encontramos. Sentimo-nos “excluídos” sem nem mesmo saber o por quê, nem por “quem”. “Quanto vale uma moeda? Fala-se muito na falta dela, só se percebe a falta dela. Quem tem grana não reclama, esbanja a vontade de ter mais. Por quanto tempo se vive sem ela?”(por Juliana Martins, pelo Facebook).
Dia desses comentei com um amigo uma situação que venho observando há muito tempo e que antes incomodava, claro que por outros motivos também: o dinheiro tem ocupado tanto espaço em nossas vidas, que até dá saudades das senhoras que ficavam nas calçadas de suas casas – ou das vizinhas –“alcovitando” sobre a vida alheia: “você viu a roupa da filha da Eduarda? Como ela deixa sua filha sair de casa daquele jeito?” Não são os valores que se foram, mas sim outros valores que deixamos fazer parte. E aí não se preocupa mais com o tamanho da roupa da filha da Eduarda – o que achávamos ser um absurdo -, mas “quanto” custou!
Dinheiro é tema de e para tudo nesse mundo. Incontáveis canções e poemas foram inspirados nele ou até na falta dele. Paulinho da Viola, por exemplo, descreveu muito bem em “Pecado Capital” que, se o dinheiro não for manuseado de forma correta, pode mudar totalmente o quadro social de alguém. “Dinheiro na mão é vendaval na vida de um sonhador. Quanta gente aí se engana e cai na lama com toda a ilusão que sonhou... Dinheiro na mão é solução e solidão”. Já Roger Waters disse em “Money” que é para “agarrar essa grana com as duas mãos e fazer um estoque”. É, o dia de amanhã não nos pertence! Vamos poupar! E tem também um trecho da canção de autoria de Arnaldo Antunes e Jorge Benjor, curiosamente denominada Dinheiro, que os autores o retratam com inspiração sobre uma realidade há muito esquecida: “dinheiro não se leva para o céu e nem cai do céu”. Essa colocação é um chute no saco do sistema! NÃO LEVAREMOS DINHEIRO PARA O CÉU, NÃO! E quando achamos que ele não cai do céu, só porque temos que trabalhar para obtê-lo, essa frase traduz que não cai do céu porque NO CÉU NÃO TEM DINHEIRO! Ele pertence “a esse mundo”! O que (ou quem) estava errado lá no céu já caiu e faz tempo. A matéria não habita o Reino de Deus! A matéria, em toda e qualquer forma, cor, cheiro ou tamanho NUNCA sairá desse mundo. A MATÉRIA É ESSE MUNDO! Tudo o que enxergamos por aí e no espelho é pura matéria! Inclusive o próprio espelho!  A matéria só terá real sentido quando o nosso egoísmo e auto suficiência forem enterrados ainda nesse mundo. Assim, veremos que é possível aproximarmos do dinheiro, da matéria, sem nos corromper enquanto seres espirituais. Ou então, viveremos atrelados e dependentes de uma vida que se perde, que se consome, a cada instante, a cada dia. E aí, lembro de Humberto Gessinger na canção “Nunca Se Sabe”: “E, se chego sempre atrasado, se nunca sei que horas são, é porque nunca se sabe até que horas os relógios funcionarão”. Eis a questão!

MENTE QUENTE agradece à Juliana Martins pela intervenção virtual e à Margot pelas correções (que não foram poucas).